domingo, 3 de abril de 2016

Ser e fazer discípulos


Mateus 28:16-20 – “Seguiram os onze discípulos para a Galiléia, para o monte que Jesus lhes designara. E, quando o viram, o adoraram; mas alguns duvidaram. Jesus, aproximando-se, falou-lhes, dizendo: Toda a autoridade me foi dada no céu e na terra. Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado. E eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século.”

Após Sua ressurreição e próximo à Sua ascensão, Jesus convocou Seus onze discípulos para se encontrarem em determinado local e começou a expor-lhes Suas últimas orientações enquanto aqui estava.

Por causa da autoridade que tinha, deu-lhes a missão de sair e fazer discípulos em todas as nações. Sua ordem não foi para que fizessem reuniões, células, cultos, etc. Tudo isso é importante, mas apenas se o propósito principal for fazer discípulos. Se fizermos reuniões ou células maravilhosas mas que não produzam discípulos, não estamos fazendo o que Jesus mandou. Discipulado é multiplicação, ou seja, multiplicamos o que temos recebido e o que somos ou praticamos.

Atos 2:14-18 – “Então, se levantou Pedro, com os onze; e, erguendo a voz, advertiu-os nestes termos: Varões judeus e todos os habitantes de Jerusalém, tomai conhecimento disto e atentai nas minhas palavras. Estes homens não estão embriagados, como vindes pensando, sendo esta a terceira hora do dia. Mas o que ocorre é o que foi dito por intermédio do profeta Joel: E acontecerá nos últimos dias, diz o Senhor, que derramarei do meu Espírito sobre toda a carne; vossos filhos e vossas filhas profetizarão, vossos jovens terão visões, e sonharão vossos velhos; até sobre os meus servos e sobre as minhas servas derramarei do meu Espírito naqueles dias, e profetizarão.”

O discípulo de Jesus que se levantou para falar em Pentecostes foi Pedro. Ele quebrou vários paradigmas judaicos ao explicar que o Espírito Santo seria derramado “sobre toda carne”: anciãos e jovens, “filhos e filhas” (homens e mulheres) e servos e servas (nobres e plebeus). Não tinha classe social, idade ou sexo: o Espírito Santo é para todos. Sendo assim, por que Pedro, posteriormente, não quis entrar na casa de Cornélio? Por que o Senhor precisou convencê-lo através de várias visões? Porque ele não havia entendido que o Espírito também era para os gentios e não somente para os judeus.

Assim, entendemos que o discípulo de Jesus não tem “rótulo” de igreja, que discipulado não é religião. Inclusive, uma das marcas do discípulo é não ser partidarista ou tendencioso a nenhuma denominação cristã. Fazer discípulo é multiplicar em outros a vida de Jesus que existe em nós. O entendimento de Cristo, a visão de Cristo, a vida de Cristo, a intimidade com Cristo que há em nós se reproduz em uma outra pessoa. Assim, é natural que haja um vínculo entre discípulo e discipulador, pois aquele reflete a essência de quem o discipula. Inclusive, inconscientemente ou não, acaba “imitando” o modo de ser, falar e agir do discipulador. Isso é natural, pois o discipulador está se multiplicando.

Mas a essência do discipulado não é multiplicar hábitos e, sim, a vida de Jesus; é querer que o outro tenha até mais do que eu tenho de Cristo. É como um pai com seu filho, que deseja que ele cresça e seja melhor do que a si mesmo. Para isso ele investe na educação do seu filho, se esforça por ajudá-lo e acompanhá-lo em tudo, educa, ensina, corrige, etc. porque ele quer ver seu filho maior e melhor que ele próprio.

Então, a principal condição para ser discípulo é não ter rótulo mas ter essência. É reproduzir, multiplicar o que Jesus lhe tem dado. Muitos não são fiéis ao depósito que receberam – acabam abrindo demais a porta do Reino, negociam princípios para facilitar a vida de alguém, rebaixam padrões, fazem coisas que Jesus não mandou ou ensinou, inventam coisas, são infiéis na reprodução.

1 Timóteo 2:1,2 – “Tu, pois, filho meu, fortifica-te na graça que está em Cristo Jesus. E o que de minha parte ouviste através de muitas testemunhas, isso mesmo transmite a homens fiéis e também idôneos para instruir a outros.”

Por que Paulo queria que se transmitisse a mensagem a homens fiéis? Porque eles deveriam ser fiéis em transmitir a mesma palavra que receberam, sem inventar, tirar ou acrescentar nada. Só não dá resultado quando não se pratica ou transmite exatamente o que aprendeu, o que recebeu. Quem não pratica, inclusive, nem consegue guardar a palavra que recebe.

“…ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado…”. O que eles deveriam fazer? Ensinar os outros a guardar as coisas que aprenderam. Como se ensina alguém a guardar alguma coisa? Praticando, vivendo – é assim que se aprende algo para toda a vida. Só ouvindo ou participando de reuniões não se pratica, não se aprende. Ensinar a guardar é acompanhar o discípulo, é “supervisionar”, educar, corrigir, entrar de verdade nos detalhes da sua vida pessoal, abrir coisas íntimas. Mas, como vou ensinar essas coisas a outros se eu mesmo não tiver tudo isso em mim? Como vou ensinar alguém a guardar se eu mesmo não pratico? Talvez um ou outro desafio possamos trabalhar para alcançar juntos, mas se não formos modelo para ele, não funciona, não iremos formá-lo. Não tem como ensinar alguém a guardar algo quando eu mesmo não guardo.

Fazer discípulo é multiplicar a própria vida, aquilo que temos e somos. Não adianta ir às nações se não começar dentro da própria casa. Muitos são bons “pregadores” mas péssimos “discipuladores” pois não “tocam”, não entram verdadeiramente na vida das pessoas.

Sabemos que o discipulado incorre em alguns riscos, como o do discipulador se tornar “dono” do discípulo. Mas, para isso, devemos diferenciar entre “palavra”, “conselho” e “opinião”. Discipulador não impõe sua opinião ou conselho, mas, sim, ensina a palavra de Deus.

Mateus 16:24 – “Então, disse Jesus a seus discípulos: Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, tome a sua cruz e siga-me.”

O verdadeiro discípulo quer ser perfeito (completo, pleno), não quer ser torto e, quando recebe a palavra de Deus, ele aceita e obedece. Ele não quer ter uma vida instável, mas quer seguir a Jesus. Então, quando lhe apontamos as verdades da palavra, ele vai sofrer mas vai viver, vai negar a si mesmo, vai tomar sua cruz e obedecer. É uma decisão, é uma escolha.

Muitos não querem ser discípulos, mas apenas crentes (evangélicos) . Não querem praticar, viver e obedecer a Palavra. São meros “consumidores evangélicos” – querem uma boa palavra, uma boa música, um ambiente agradável, escolinhas para seus filhos, estacionamento para seus carros, lugar acessível e perto de casa, etc.

Mateus 10:32-39 – “Portanto, todo aquele que me confessar diante dos homens, também eu o confessarei diante de meu Pai, que está nos céus; mas aquele que me negar diante dos homens, também eu o negarei diante de meu Pai, que está nos céus. Não penseis que vim trazer paz à terra; não vim trazer paz, mas espada. Pois vim causar divisão entre o homem e seu pai; entre a filha e sua mãe e entre a nora e sua sogra. Assim, os inimigos do homem serão os da sua própria casa. Quem ama seu pai ou sua mãe mais do que a mim não é digno de mim; quem ama seu filho ou sua filha mais do que a mim não é digno de mim; e quem não toma a sua cruz e vem após mim não é digno de mim. Quem acha a sua vida perdê-la-á; quem, todavia, perde a vida por minha causa achá-la-á.”

Virão dias difíceis quando teremos de nos encontrar às escondidas para compartilhar nossa fé, quando teremos de fugir, de nos esconder. Dias onde não haverá prédios ou eventos, dias onde apenas o confessar a Jesus pode custar a liberdade ou a própria vida. A esses dias os “crentes” não sobreviverão; apenas os discípulos. Só um discípulo tem um compromisso com Jesus nesse nível, de dar a vida por Ele. Discípulo é aquele que perde ou aborrece a própria vida, é aquele que tem Jesus como O primeiro. Não é alguém perfeito, mas persegue isso.

Fazer discípulos é procurar pessoas que não sejam apenas religiosos ou consumidores evangélicos, mas que amem a Jesus acima de tudo e de todos, que O adorem em espírito e em verdade (João 4:24). Talvez encontremos poucos decididos a isso, mas Jesus já nos preveniu a esse respeito:

Mateus 7:13,14 – “Entrai pela porta estreita (larga é a porta, e espaçoso, o caminho que conduz para a perdição, e são muitos os que entram por ela), porque estreita é a porta, e apertado, o caminho que conduz para a vida, e são poucos os que acertam com ela.” (grifo meu)

Muitos que assim decidem viver são até tachados de loucos, malucos. Mas abraçar a cruz sempre foi motivo de loucura e perseguição:

1 Coríntios 1:18 – “Certamente, a palavra da cruz é loucura para os que se perdem, mas para nós, que somos salvos, poder de Deus.”

Assim, não adianta sair pregando o evangelho pelos quatro cantos do planeta se não for verdadeiramente um discípulo. Jesus mandou seus discípulos irem às nações “ensinando a guardar” aquilo que Ele lhes havia transmitido. Eles deveriam primeiramente viver, praticar a palavra e, depois, sair ensinando a outros.

Que o Senhor possa nos moldar, formar, amadurecer, nos tornar discípulos e que nos multipliquemos em outros. Isso é o evangelho do Reino de Deus sendo pregado de verdade: as pessoas se comprometendo seriamente, entregando suas vidas a Jesus por completo e de todo o coração, multiplicando e reproduzindo em outros exatamente o que têm recebido e praticado.

Jesus não nos chamou para fazer parte de uma religião mas para sermos discípulos, para segui-Lo, para estar com Ele. Não importa quem somos ou o que fazemos, mas se queremos ou não ser discípulos, se queremos ou não tomar essa decisão de praticar, de viver o que temos aprendido e recebido, se queremos ou não transmitir essa mesma vida a outros. Lembre-se: nunca conseguiremos fazer discípulos se, primeiramente, não quisermos sê-lo!

Em Cristo,

Sérgio Franco

Fonte: http://conexaoeclesia.com.br/

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