sábado, 6 de agosto de 2016

A Anatomia de uma Obra






                   Desde que me entendo por gente vivo em uma rua de chão batido, de terra mesmo. Apesar da localização ser relativamente boa, toda aquela terra e sujeira estava diariamente às portas de minha casa, na varanda e corredores, quando não dentro dela. A vizinhança também não era lá essas coisas e por vezes tínhamos que recolher o lixo e os entulhos que por falta de senso ou propositalmente depositavam em nossa porta. Havia necessidade de um esforço repetido de limpeza, algo diário. O chão ficava sujo, os móveis completamente empoeirados, e estampado no rosto dos que comigo viviam ficava a tristeza com a aparência desleixada e feia que ficava nossa casa diante daquela situação. Quais as soluções imediatas para aquele problema?
               Como não tínhamos condições no momento de mudar para um lugar melhor, se quiséssemos um ambiente mais habitável precisaríamos fazer algumas mudanças na casa, algumas reformas, por assim dizer. Precisaríamos pôr a nossa casa em obras. Obras? Porque algo tão radical? Obras expõem mais defeitos e imperfeições na estrutura da casa, obras expõem a própria estrutura da casa. Deixam tudo escancarado. Chegamos a pensar que obras deixariam nossa casa ainda mais feia, mais desconfortável e menos habitável, pelo menos durante o período em que estivessem sendo realizadas. Obras incluíam pessoas transitando em nosso lar com um acesso quase irrestrito aos nosso cômodos, até mesmo aos nosso quartos. Obras nos tirariam a privacidade e nos exporiam aos nossos nervos por um bom espaço de tempo. Valeria a pena tanto, simplesmente para livrarmo-nos da sujeira ao nosso entorno? Se propuséssemos em nossos corações suportar aquilo por mais alguns anos, quem sabe poderíamos encontrar um lugar mais “limpinho” para viver. Colocamos todas as nossas opções na mesa, pesamos os prós e os contras, ponderamos as possibilidades de imprevistos no futuro não nos permitirem mudar e decidimos, conscientes de que iria doer: Vamos às obras!
                Então Cristo entrou! Foi assim que se apresentou o Mestre de Obras que “contratamos”. Cristo, nome inusitado, mas uma personalidade fortíssima. Nos explicou detalhe por detalhe do que precisava ser feito, deixou claro todos os infortúnios, mas nos garantiu com a sua vida que o resultado ficaria magnífico, esplêndido. Logo quando ele chegou lá em casa, foi nos demonstrando os defeitos que havia. Nos mostrou que a sujeira de fora era extremamente incômoda, mas que dentro havia muitos problemas que nem nos apercebíamos, e que se nós lhe déssemos permissão, um passe livre, ele deixaria nossa casa num estado tão, mas tão maravilhosa que nem precisaríamos mudar de bairro enquanto vivêssemos! Achamos que valia a pena, demos o tal passe livre para o Cristo, mal sabíamos o quanto iria doer, mas o resultado realmente ficou muito além do esperado.
                Cristo olhou para o nosso teto e pra nossas paredes e detectou logo uma infiltração generalizada em nossa casa. Bem que tentamos escondê-la com várias mãos de pintura e de massa, mas esse tal de Cristo parecia ter um olho clínico, parecia até que tinha vivido em nossa casa. Ele mostrou que nossas janelas estavam mal colocadas nos expondo a inconvenientes desnecessários e a uma ventilação mal direcionada. Que as portas estavam em sua maioria ou muito largas ou muito estreitas. Uma hora era espaço demais para passar, outra hora não tinha espaço pra nem uma pessoa.  Expôs os perigos dos nossos portões exteriores, que não permitiam que ninguém passasse sem autorização, mas deixavam que jogassem todo o tipo de sujeira na varanda, quando não pedras e artefatos perigosos. Era muito vazado. Cristo até examinou o solo em que nossa casa estava construída, disse que estava edificada em um relevo instável, mas que tinha uma solução para isso: Um líquido vermelho como sangue, que se fosse espalhado sob a casa, solidificaria todo o entorno. Não entendi direito a solução logo de início, mas funcionou de verdade. Ele também viu nossos encanamentos e nossas fiações. Havíamos construído tudo tão depressa e tão sem conselhos que os canos da casa estavam numa disposição tal que não havia pressão na água. Às vezes ficávamos desabastecidos e não sabíamos os motivos. Cristo disse que deixássemos com ele que tudo seria resolvido. Por último, ele diagnosticou que os fios elétricos estavam totalmente mal instalados, as espessuras estavam trocadas e toda a energia que vinha de fora da casa, apesar de fazê-la funcionar estava sobrecarregando aquela estrutura fraca e deficiente. A qualquer momento passaríamos por um curto circuito. Estávamos à beira de um colapso.
Quando Cristo terminou de demonstrar tudo ficamos pasmos, um tanto incrédulos. Não podíamos acreditar haver tantos defeitos: vivíamos tão bem, estávamos tão confortáveis, tão acostumados. Não podíamos estar diante de tantos problemas assim, devia ser um algum tipo de exagero. Mas o tal do Cristo disse que sua habilidade de mestre havia sido conquistada com muita dedicação, que ele passou a vida inteira em lugares como a nossa casa, reformando, reestruturando e dando aos moradores uma vida melhor, e que por isso tinha todo o respaldo para apontar defeitos, mas que nunca os deixava sem as suas soluções. Dependia de nós agora.
Demos o aval! Nossa, foi uma bagunça! Gente pra todo lado se intrometendo em nossa vida, dando opiniões sobre a obra, todo mundo debaixo das ordens do Cristo! Algumas paredes foram derrubadas, os escombros demoravam um pouco a ser retirados e atrapalhavam o caminhar, tínhamos que nos desviar a todo momento. Outras paredes foram reutilizadas para criar novos ambientes. As janelas foram reposicionadas e agora dão ventilação e não nos expõem a perigos e às pessoas de fora. As portas foram colocadas nos locais corretos e com os tamanhos corretos. Transitar lá em casa ficou muito mais fácil pra todo o tipo de pessoa. Cristo trouxe um novo modelo de portão, que dava segurança de verdade, apesar de permitir a visualização do lado de fora.  Não ficamos isolados. Passamos quase uma semana sem água, precisamos pedir emprestado, foi uma humilhação da gota precisar depender dos outros, mas faz parte. Mas desde que Cristo refez a encanação os vizinhos começaram a aparecer para pedir água quando falta na rua, já que ele incluiu um reservatório muito grande para momentos de seca. Quanto à energia, Cristo não nos deixou sem luz um dia sequer, foi fazendo a mudança cômodo por cômodo até que tudo estava no lugar e funcionando na potência correta.
Ufa! Falando assim parece que nem foi tão difícil mas só quem estava lá pra ver. No fim de tudo ainda tivemos uma surpresa: Cristo disse bem assim: “Queridos, a obra mais pesada está feita, mas de agora em diante vocês precisam estar atentos à tudo e sempre dar uma manutenção, porque senão tudo o que fizemos aqui pode ser inútil.”(Tinha um vocabulário diferente o Cristo: Queridos, amados, filhinhos...acabamos aprendendo). Ele disse ainda que todo aquele tempo que passou conosco criou uma relação de amizade muito forte e que sempre que percebêssemos que algo estava saindo do lugar, podíamos recorrer a ele que viria consertar imediatamente. Muito gente boa o Cristo. Apesar da sinceridade dele ter nos assustado um pouco no início, se mostrou completamente prestativo e cuidadoso, deixou tudo no lugar e constantemente vem nos visitar, parece até que é onipresente o homem.
Ahh, quase esqueci uma coisa. Não tinha falado da fachada da casa. Pois então: Cristo nos deu de presente uma fachada nova, redecorou, limpou e pintou tudinho. Agora todo mundo que entra em nossa rua percebe logo que a nossa casa foi reformada. Alguns acham que a reforma foi de mal gosto, outros acham que ficou esplêndido e pedem logo a recomendação de quem fez a obra. Dizemos de imediato: Foi o Cristo!!! Certo é que ninguém deixa de perceber que somos diferentes do resto da rua. Depois da obra, nossa qualidade de vida melhorou tanto, mas tanto, que sempre que há uma oportunidade nós recomendamos o Cristo pra outras pessoas que estão precisando fazer uma obrinha. Na verdade hoje nós ficamos tão fãs do Cristo e do que ele fez com a nossa casa que achamos que todo mundo precisa fazer uma reforma e por isso logo o indicamos. Ele pediu que fizéssemos propaganda mesmo...olha o que tem escrito no cartão profissional que ele deixou pra a gente: "Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo; Ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado; e eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos."(Mateus 28:19,20)

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