sábado, 6 de agosto de 2016

AS VESTES DA HUMILDADE




                                                              Cingi-vos todos de humildade, porque Deus resiste aos soberbos, contudo aos humildes concede a sua graça. (1 Pe 5.5)
Quando o apóstolo Pedro aconselha aos cristãos que se revistam de humildade no seu trato uns com os outros, na verdade, está dando a entender que a humildade deve ser uma espécie de uniforme que nos identifique diariamente.
Naquela época, era costume as pessoas se vestirem de acordo com seu status e sua posição na sociedade. Hoje em dia, também, costumamos identificar alguns servidores públicos pelo tipo de roupa uniformizada que usam. Se, por exemplo, estivermos numa cidade estranha e necessitarmos de um determinado tipo de auxílio, logo daremos uma olhada pelas redondezas à procura de um policial, que podemos identificar pela farda.
Quando o carteiro chega em nossa casa, também, nós não temos nenhum receio dele. O uniforme que usa mostra que ele é um servidor público, com a responsabilidade de realizar um tipo de serviço. E o Espírito Santo, através das palavras do apóstolo, ensina que é necessário que os membros do Corpo de Cristo estejam submissos uns aos outros pelos laços do amor, da misericórdia e da graça. E essa postura de submissão e humildade, assumida em sinceridade, torna-se o nosso uniforme, nosso adorno, que mostra para os outros que somos remidos, que somos discípulos obedientes de Jesus Cristo e que pertencemos a Ele! E se lembrarmos que foi Jesus Cristo, nosso Senhor, quem se revestiu de humildade, e rebaixou-se a tal ponto de chegar à morte, e morte de cruz, não acharemos estranha essa orientação de Pedro. Esse ensino é um exemplo divino e escriturístico que temos na pessoa de Jesus, que,“subsistindo em forma de Deus não julgou como usurpação o ser igual a Deus; antes a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de homens; e, reconhecido em figura humana, a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até à morte, e morte de cruz. Pelo que também Deus o exaltou sobremaneira e lhe deu o nome que está acima de todo nome” (Fp 2.6-9).
É muito importante que os cristãos entendam que, como Jesus veio ao mundo revestido de humildade, ele sempre estará entre aqueles que se revestem de humildade. Ele sempre se encontrará entre aqueles que são humildes. Há muita gente que ainda não aprendeu essa lição.
Quero mencionar aqui uma passagem muito interessante do livro de Cantares de Salomão que, em minha opinião, revela de forma muito prática o anseio que o Noivo celestial tem de estar em comunhão com aqueles que lhe são caros no plano do serviço humilde. Encontra-se no capítulo 5.
A noiva está narrando sua aflição porque seu amado a chamou no meio da noite, para sair com ele, mas ela demorou a responder. Ele dissera a ela que a cabeça dele estava coberta de orvalho, o cabelo molhado pelas gotas da noite, pois ele estivera colhendo mirra, lírios, e cuidando de suas ovelhas. Resumidamente, ela recorda que estava belamente vestida para a noite, mas essa roupa não seria apropriada para atender ao chamado dele, pois ele queria que ela fosse estar com ele, onde ele se encontrava, na sua humildade, trabalhando entre as ovelhas, no serviço das hortas e dos campos. Por fim ela confessa: “Abri ao meu amado, mas já ele se retirara e tinha ido embora... busquei-o mas não o achei; chamei-o, e não me respondeu.” Quando afinal ela se dispusera a vestir as roupas certas, para auxiliá-lo no serviço humilde, ele já fora embora.
As Escrituras ensinam claramente que Deus está sempre do lado dos humildes, e Pedro concorda plenamente com este ensino de que Deus resiste aos soberbos mas aos humildes concede a sua graça. É possível que as pessoas, de um modo geral, pensem que encontrarão Jesus Cristo onde quer que elas estejam. Mas eu acho que existe a possibilidade de encontrarmos a Cristo somente onde ele está — e ele está na posição de humildade — sempre!
Deus resiste aos soberbos
Deus resiste àquele que é orgulhoso e obstinado. Acredito que Deus vê a atitude do orgulhoso como uma atitude de resistência a ele. Não é muito comum um homem levantar os olhos para Deus e dizer: “Ó Deus, eu resisto a ti; eu te desobedeço!” Talvez isso aconteça uma vez em cada cem anos. Os homens, geralmente, não têm essa atitude. O mais provável é que nos oponhamos a ele fazendo resistência ao lado em que ele está ou aos seus ensinamentos. Mas a Bíblia mostra com clareza que quando uma pessoa orgulhosa e obstinada resiste a Deus, pode saber que Deus também resistirá a ela.
Quando um homem delibera firmemente praticar uma ação contra um cristão, mesmo que este tenha razão no ponto em questão, ele descobrirá depois que Deus faz resistência a ele, pois seu espírito e atitude estão errados. Deus não olha apenas a situação exterior, ele vê o espírito e a atitude do indivíduo. Ele está mais interessado na maneira como reagimos à agressão ou aos maus tratos, do que no fato de que fomos maltratados.
Alguns crentes já passaram pela experiência de ser destratados por outros, com palavras violentas e linguagem bem agressiva. No que diz respeito a Deus, essa violência não interessa. Se você é um filho de Deus que está sofrendo agressões ou perseguição por causa dele, o grande interesse dele é a atitude que você terá em face da agressão. Você teria um espírito de resistência, com intenções de vingança? Se você resistir ao Espírito de Deus, que lhe pede que demonstre o amor e a graça de Jesus Cristo, seu Salvador, pode ficar certo de uma coisa: Deus também resistirá a você! Bem, mas isso não quer dizer que agora Deus vai-se virar contra você e tomar o partido do outro que o maltratou. Mas quer dizer que ele irá resistir-lhe porque sempre resiste ao obstinado.
Mesmo que a razão esteja com você, Deus leva em conta que sua atitude está errada. O fato de Deus resistir ao soberbo, não significa também que mandará logo sobre ele um castigo severo. É provável que nem revele sua resistência a ele com um castigo visível ao público. Raramente Deus nos dá castigos trágicos. Muitas vezes tenho me perguntado se não aprenderíamos mais depressa a lição da humildade se Deus resistisse a nós, como dois soldados em luta se resistem um ao outro: com um entrechoque de espadas, e derramamento de sangue. Mas não é assim que ele age.
Quando Deus resiste a um homem por causa de pecados de atitude, e do espírito, ocorre uma lenta degeneração espiritual interior que é um sinal do castigo que veio sobre ele. E esse endurecimento lento do coração provocado pela nossa obstinação em não nos rendermos a Deus, acaba provocando cinismo. Desaparece o gozo espiritual, e não produzimos mais os frutos do Espírito. A pessoa que passa por esse processo acabará azedando-se como uma fruta estragada — e não é exagero dizer que aquele que provoca a resistência divina continuará a azedar-se amargamente em seu próprio sumo. Deus resiste ao soberbo, e acredito que o aspecto mais importante de tudo isso é o seguinte: essa pessoa pode estar com a razão na questão básica, mas fracassou no teste a que seu espírito foi submetido.
Deus dá graça ao humilde
É importante observar também que esse texto afirma que o mesmo Deus que tem que resistir ao soberbo, sempre está pronto para conceder ao humilde a sua graça. A Bíblia ensina que devemos humilhar-nos sob a potente mão de Deus.
Se tivéssemos que demonstrar nossa humildade apenas sob a mão de Deus, isso seria relativamente fácil. Se o Senhor lhe dissesse: “Olhe, vou chegar à igreja, e vou me colocar lá na frente. Você deverá vir ajoelhar-se e humilhar-se diante de mim”, isso seria muito fácil, pois sei que não é humilhante ajoelhar-me diante do próprio Deus. Qualquer um poderia fazer isso e continuar a sentir-se orgulhoso, embora estivesse ajoelhando-se perante a eterna Majestade de Deus nas alturas.
Mas Deus conhece nosso coração e não permite que obedeçamos à sua ordem de ser humilde somente com um gesto exterior. Deus pode usar pessoas que achamos não ser dignas de engraxar nosso sapato, e no entanto, numa determinada situação, ele pode querer que nos humilhemos mansamente e aceitemos aquilo que elas fizeram conosco. Com esse espírito de mansidão, estaremos humilhando-nos debaixo da potente mão de Deus.
Vamos recordar o exemplo de nosso Salvador, cruelmente fustigado e ferido pelos chicotes. Aquelas chicotadas não foram dadas por um arcanjo, mas pelas mãos de um soldado romano, pagão. Todo aquele sofrimento que ele suportou foi-lhe infligido por homens ímpios, maus, blasfemos, de boca suja, que não eram dignos de limpar a poeira da sola do sapato dele, e não por multidões das hostes celestiais. Mas Jesus, voluntariamente, se humilhou debaixo das mãos dos homens, e assim fazendo, humilhou-se também sob a mão de Deus.
Submeter-se, mas não fazer concessões
Muitas vezes os cristãos indagam: “Mas então tenho que me humilhar e aceitar mansamente todas as situações da vida?” Em minha opinião a resposta para isso é a seguinte: como cristãos, para nos humilharmos, não devemos transgredir as leis morais nem falsear a verdade. Se para nos humilharmos tivermos que fazer concessões à verdade, não devemos humilhar-nos. O mesmo se aplica quando se trata de transgredir as leis morais. Estou certo de que Deus não exige que ninguém se humilhe moralmente ou falseando a verdade. Mas temos uma orientação de Deus para nos humilharmos debaixo de sua potente mão — e que os outros atirem a primeira pedra!
Mas nessa orientação que Deus dá a seu povo para que se humilhe, ele faz uma promessa, a de que “em tempo oportuno” ele nos exaltará! “Tempo oportuno”. Acredito que isso se refere a uma ocasião adequada em todos os aspectos. Será a hora que Deus sabe ser a melhor para nós, para nosso aperfeiçoamento, uma hora em que seu nome receberá toda a glória, e que resultará em bem para outros. Esse é o “tempo oportuno”.
É possível que Deus, em sua vontade, queira que esperemos um longo tempo antes de sermos exaltados. Ele poderá deixar que trabalhemos muito tempo, em humildade e sujeição, antes de nos honrar, porque ainda não é o “tempo oportuno”, não é o tempo dele. Irmão, Deus sabe o que é melhor para cada um de nós, no seu plano de transformar-nos em crentes que irão glorificá-lo e honrá-lo em todas as coisas.
Muitos de nós prejudicamos nossos filhos concedendo-lhes coisas que não deveríamos dar: ensinando-os a dirigir antes que tenham a idade certa; dando-lhes muito dinheiro antes que saibam o valor dele; dando-lhes liberdade excessiva antes que eles saibam o que é ter responsabilidade e maturidade. Fazemos isso por causa de uma afeição mal aplicada, mas essas coisas prejudicam nossos filhos. Retribuir uma pessoa por coisas que não fez por merecer certamente resultará em prejuízo para ela. Assim também, se Deus vier prontamente em nossa defesa, antes que tenhamos passado pelo fogo, isso redundará em prejuízo para nós.
A hora de Deus é a melhor
Estamos vendo aqui uma verdade bíblica, e não uma ficção criada por homens. Se a história de Daniel fosse escrita por um autor de ficção moderna, ele procuraria proteger o profeta. É possível que na hora em que ele fosse lançado na cova dos leões, todos ouviriam uma voz do céu bradando algo, e aqueles animais cairiam mortos. Mas o que foi que aconteceu realmente? Deus permitiu que os inimigos de Daniel o jogassem na cova dos leões e que ele passasse a noite ali, porque o “tempo oportuno” de Deus para Daniel era na manhã seguinte, e não na noite anterior.
Gostaria de ver também como os escritores de ficção hoje tratariam a história dos três hebreus que foram lançados na fornalha ardente. Provavelmente escreveriam todo um romance com aquele fato! Eles teriam que inventar um artifício humano, dramático, para apagar aquele fogo pouco antes de os três rapazes serem lançados na fornalha — mas isso seria apagar o fogo antes da hora! Para que a vontade de Deus fosse feita, e ele fosse glorificado em tempo oportuno, aqueles moços tinham que entrar no fogo e passar a noite ali — o tempo oportuno era pela manhã.
Deus disse que nos exaltará em tempo oportuno, mas lembremos que ele está falando de sua hora, não da nossa. É possível que alguns leitores estejam nesse momento passando por uma fornalha ardente. Talvez estejam passando por uma provação espiritual. Pode ser que o pastor não saiba de nada, nem as outras pessoas, mas você pode estar orando a Deus e perguntando: “Senhor, por que não me tiras daqui?” É que, pelos planos de Deus, ainda não é o “tempo oportuno”. Assim que você tiver passado pelo fogo, Deus o libertará disso, e não haverá cheiro de fumaça em sua roupa, e você não terá sofrido dano algum. O único dano que pode haver decorrerá de você insistir em que Deus o retire da provação antes da hora por ele planejada.
Deus prometeu exaltar-nos no momento oportuno, e ele sempre cumpre as promessas que faz a seu povo. Nós, os filhos de Deus, sempre podemos esperar. Quando um filho de Deus está no centro da vontade de Deus, ele não precisa preocupar-se com o tempo. O pecador, sim, ele não tem tempo. Terá que apressar-se, ou então irá para o inferno. Mas o crente, não; o crente tem à sua frente uma eternidade de bênçãos. Então, se você estiver numa fornalha, não queira sair dela antes da hora. Espere pela vontade de Deus, e ele o exaltará no tempo oportuno — o momento certo para as circunstâncias. Será uma hora certa, determinada por Deus, com o propósito de glorificá-lo, e edificar seu espírito.
Uma das maiores fraquezas que nós, os cristãos, temos, é a de querer tudo acertado antes que a provação termine. Deus já disse que ele deseja testar-nos e pôr-nos à prova, e que depois que a provação terminar ele mesmo dará o veredito: “Provado e achado sem falta!”
Eu só peço a Deus que, nesta época em que aguardamos o retorno de Cristo, todos nós possamos conduzir-nos como filhos dele, como crentes cheios de fé. Paulo disse que, quando Jesus veio ao mundo, veio na plenitude dos tempos — era a hora determinada por Deus para que ele viesse e morresse pelos nossos pecados. E Pedro afirma que Deus nos exaltará em “tempo oportuno”, referindo-se ao fato de que Jesus vai voltar à terra no tempo determinado por Deus.
O desejo de Deus para nós, nesses dias, é que vivamos em sujeição uns aos outros, em humildade, preparando-nos para a volta de seu Filho, que será exaltado junto com seus filhos!

A. W. Tozer

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